segunda-feira, 17 de março de 2008

Pai nosso...

... que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu!

"A tua vontade"... tenho medo Pai, pois não sei qual é a tua vontade.

Hoje mesmo ouvi a frase: "todos tem que morrer um dia", na mesma hora me perguntei porque os bons tem que morrer de forma tão triste? Já passei, na minha opinião, pela pior situação que alguém pode passar, ver uma pessoa que você gosta muito morrer aos poucos. Até hoje sinto calafrios ao lembrar dessas horas, acompanhar de perto a morte chegando e não poder mandá-la embora. Passei pela dor da perda duas vezes, na primeira ela veio serena, levou vovó com um doce beijo na face, quando olhei ela já tinha partido. Anos depois perdi outra pessoa que amava, dessa vez sim ela veio arrasadora, destrutiva, e fui obrigada a ver de perto ela roubar a vida, torturar por meses. Fui fraca, já não aguentava mais tanto sofrimento, desejava sumir para não ver aquilo acontecer, mas como? Tive que suportar de mãos atadas meu grande amigo e sogro ser tragado pela escuridão.


...Eu não posso, e definitivamente não quero ver a pessoa que mais esteve ausente e presente em minha vida ser levada de forma tão triste. Não tenho forças pra aguentar. Tenho idéia do que me espera, quero camuflar isso tudo, fazer de conta que não está acontecendo de novo, mas não sei se vou conseguir. Desejei tanto sua presença, por tantos momentos em minha vida que quando esteve presente de tão abobalhada não soube aproveitar. Talvez por não estar acostumada com a situação, talvez pela simplicidade de sua pessoa eu não podia agir de outra forma a não ser fazer de conta que você sempre esteve aqui comigo. Lembranças, belas lembranças, talvez as mais puras, as mais bonitas, a pessoa mais doce que já conhecei. Viveu tão serenamente que talvez por essa razão Deus tenha destinado um final lento para sua vida. Para que possamos nos despedir aos poucos. Eu quero olhar suas fotos e pensar que está aqui, quero voltar no tempo e fazer-me criança de novo só pra ter sua companhia, queria até o voto da união sagrada novamente só para sentir-me orgulhosa pela sua presença ao meu lado. Tanta ausência justifica tanta presença! Isso é engraçado, mas é real. Na ausência eu fiz sua presença, eu senti sua mão, eu quis sua ajuda, eu senti seu abraço, eu quis um conselho, eu ouvi sua voz, eu quis sua companhia, eu senti sua presença, eu não pude chamar seu nome, mas esse prazer eu dei ao meu filho.

...

Um comentário:

Alessandro Palmeira disse...

Texto lindo. Tão poético quanto um horizonte.
Beijos Pipa, e não pare de escrever.